28 fevereiro 2017

À hora do fecho

Na última página do semanário "Savana" existe uma coluna de ironia - suave nuns casos, cáustica noutros - que se chama "À hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Segue-se um extracto reproduzido da edição 1207, de 24/02/2017, página 27, disponível na íntegra aqui.

27 fevereiro 2017

Petróleo em Inhambane

De um despacho da "Agência de Informação de Moçambique": "A Sasol, multinacional sul-africana, descobriu petróleo em dois furos efectuados ao largo da costa moçambicana, na província meridional de Inhambane, e pretende iniciar a exploração dentro dos próximos dois a três anos, anunciou hoje, um dos seus directores executivos." Aqui.
Adenda às 04:50 de 01/03/2017: leia um esclarecimento aqui.

Uma crónica semanal

Se quiser ampliar a imagem, clique sobre ela com o lado esquerdo do rato. Nota: "Fungulamaso" (=abre o olho, está atento, expressão em ShiNhúnguè por mim agrupada a partir das palavras "fungula" e "maso") é uma coluna semanal do "Savana" sempre com 148 palavras na página 19. A Cris, colega linguista, disse-me que se deve escrever Cinyungwe. Tem razão face ao consenso obtido nas consoantes do tipo "y" ou "w". Porém, o aportuguesamento pode ser feito tal como grafei.
Nota: o presente fungula pertence à edição física n.º 1207 do semanário "Savana" com data de 24/02/2017. Se for possível disponibilizarei proximamente a versão digital dessa edição.

26 fevereiro 2017

Prémio Escolar Editora de Ciências Sociais [3]

Número anterior aqui. O júri apurou três dos 21 trabalhos concorrentes à primeira edição [2016] do Prémio Escolar Editora de Ciências Sociais. Seguem-se dados referentes ao primeiro classificado.
Título: Mineração artesanal em Moçambique: um estudo sobre seu contributo para o empoderamento das comunidades locais no Posto Administrativo de Namanhumbir
Número de páginas: 119
Autor: Zacarias Milisse Tsambe
Classificação: primeiro lugar
Alguma informação sobre o autor: Mestre em Ciências Políticas e Estudos Africanos pela Universidade Pedagógica de Moçambique (2016). Assistente universitário na Universidade Pedagógica, Delegação de Montepuez - Cabo Delgado. Experiência de docência no ensino superior, leccionando nos Cursos de História e Antropologia da Faculdade de Ciências Sociais e Filosóficas da citada universidade. Tem interesse nas áreas de estudos de género na mineração artesanal em Moçambique e desenvolvimento de políticas sócio-comunitárias.
Prémio: trabalho a publicar pela Escolar Editora, com menção explícita ao prémio;10% por cento dos direitos de venda e 10 exemplares.
Proximamente, informação adicional sobre o concurso.

Sobre a xenofobia na África do Sul

Há indícios de novos movimentos xenófobos preocupantes na África do Sul.
Hoje ainda, milhões de Sul-Africanos vivendo nos bairros pobres, aguardam, com angústia e crescente exasperação, que a África do Sul pós-apartheid permita uma vida mais digna, permita a reversão da história em seu favor e das suas famílias. Olham com despeito e desprezo para os estrangeiros afadigados em seus variados misteres, com as suas lojas, trabalhando com salários baixos e muitos certamente em situação de residência ilegal, assumem-nos como intrusos, como parasitas, como pobres que chegam para aproveitar a riqueza local.
A imputação vertical na direcção das classes possidentes locais é substituída pela imputação horizontal na direcção dos africanos estrangeiros.
São os “de baixo” que pagam, não os “de cima” locais, como que num processo de compensação perverso, de racismo sem raça. A perseguição xenófoba tem atingido momentos dramáticos, como sucedeu em 2008, 2010 e 2015.
Estamos confrontados com uma crença objectivamente falsa mas havida como subjectivamente verdadeira.
Porém, a xenofobia nada tem de especificamente sul-africano. Ela mundializa-se das mais variadas maneiras e será tão mais possante e letal quão mais politicamente se puser de lado a melhoria permanente, múltipla e efectiva das condições de vida das pessoas.
A história é, afinal, a tragédia inseparável do claro e do escuro, do diurno e do nocturno, do lógico e do ilógico, da serenidade e do desespero.

25 fevereiro 2017

Prémio Escolar Editora de Ciências Sociais [2]

Número anterior aqui. O júri apurou três dos 21 trabalhos concorrentes à primeira edição [2016] do Prémio Escolar Editora de Ciências Sociais. Seguem-se dados referentes ao segundo classificado.
TítuloOs direitos humanos e a questão dos refugiados: uma reexão em torno da situação dos direitos humanos dos refugiados no campo de Maratane-Nampula
Número de páginas: 88
Autor: Jorge Diogo Monteiro Palamussa
Classificação: segundo lugar
Alguma informação sobre o autor: licenciado em Relações Internacionais e Diplomacia pelo Instituto Superior de Relações Internacionais em Maputo. Trabalhou como contabilista no Centro Cultural Islâmico Abubacar Mandgirá de Nampula e tem um vasto interesse sobre assuntos relacionados com migrações internacionais e refugiados.
Prémio: 20 livros da coleção "Cadernos de Ciências Sociais" da Escolar Editora.
Amanhã será a vez de apresentar o primeiro classificado.

Muiambo e os parasitas

De um texto de Salomão Muiambo: "[...] estes parasitas estão hospedados em vários sectores de actividade. Nos municípios, por exemplo, abocanham as taxas e impostos diversos, vendem a terra, propriedade do Estado, adjudicam obras sem concurso público, dirigem mal os projectos, numa amálgama de irregularidades, em busca de proventos ilícitos, em claro prejuízo da instituição que representam. Na Polícia, ao invés de autuarem os prevaricadores, com as receitas a converterem-se a favor do Estado, mandam “falar como Homem”, cobrando refresco. Até extorquem turistas. Nos tribunais absolvem criminosos; nas penitenciárias soltam reclusos, nas escolas privilegiam a fraude académica nos outros serviços, tudo fazem para espoliar. É assim o nosso meio social. [...]." Aqui.

24 fevereiro 2017

Prémio Escolar Editora de Ciências Sociais [1]

O júri apurou três dos 21 trabalhos concorrentes à primeira edição [2016] do Prémio Escolar Editora de Ciências Sociais. Seguem-se dados referentes ao terceiro classificado.
TítuloA Influência da Educação para a Cidadania na Projecção da Imagem de Moçambique
Número de páginas: 176
Autora: Maura Gonçalves Couto
Classificação: terceiro lugar
Alguma informação sobre a autora: licenciatura em Ciências da Comunicação, na área de Marketing e Publicidade, obtida no Instituto Superior Politécnico e Universitário (actual Universidade Politécnica) de Moçambique. Trabalha actualmente como especialista de comunicação e marketing social e deseja tirar um mestrado e cursos técnicos na área das ciências sociais e comunicação para a mudança de comportamento.
Prémio: 10 livros da coleção "Cadernos de Ciências Sociais" da Escolar Editora.
Amanhã será a vez de apresentar o segundo classificado.

23 fevereiro 2017

Crítica aos críticos

Um editorial do jornal "Magazine Independente" em sua versão digital que critica os críticos do "Sustenta", aqui.

Prémio Escolar Editora de Ciências Sociais

A partir de amanhã darei a conhecer os três vencedores do Prémio Escolar Editora de Ciências Sociais - ao qual foram propostos 21 trabalhos -, cuja primeira edição (2016) foi dedicada a Moçambique mas que a partir deste ano será internacionalizado para todo o mundo académico falante de português. Recorde o regulamento da 1.ª edição aqui.

Um prisma sobre Moçambique

Saiba sobre Moçambique através do mais recente número de um boletim editado por Joseph Hanlon, com informação e análise aqui. Número anterior aqui.

22 fevereiro 2017

Água: tranquilidade por dois meses

No "O País" digital de hoje sobre o nível de água no Umbeluzi que fornece água para Maputo, Matola e Boane: "Segundo a ARA-Sul, o nível das águas subiu cerca de 40%, sendo que a bacia regista uma margem de 8 milhões de metros cúbicos, quantidade suficiente para abastecer durante dois meses, pois, mensalmente, gastam-se cerca 4 milhões metros cúbicos, tendo em conta o actual regime de restrições." Aqui.
Adenda às 15:53: confira também aqui.

Se

Se a meta for um futuro solidário, o grande desafio da humanidade talvez consista em fazer da verdade a quantidade máxima de consenso partilhável.

Sobre o capital mágico

Vamos na rua, um carro fere-nos subitamente: quantos recusariam ver nisso não o produto de uma causa ou de um conjunto de causas fortuitas (ou, como escreveu um dia alguém, “o reencontro de séries causais diferentes”), mas a expressão do azar, a sombra de uma intenção subreptícia que nos teria escolhido precisamente a nós e não a outros? Existe uma espécie de capital mágico em todos nós, sempre pronto a vir à superfície à mais pequena oportunidade, despedaçando o verniz da racionalidade escolarizada.

21 fevereiro 2017

Prémio Escolar Editora de Ciências Sociais

Já são conhecidos os vencedores do Prémio Escolar Editora de Ciências Sociais, cuja 1.ª edição foi dedicada ao nosso país. Recorde o regulamento no portal da editora aqui. Informação adicional será fornecida proximamente.

Feiticismo das multidões políticas

Há políticos que amam as multidões políticas, que as tomam por testemunho popular de adesão e de doação de legitimidade. Esquecem que os amantes populares de espectáculos sinestésicos são profundamente transversais e não perdem qualquer comício, seja de que político e tonalidade for. O espectáculo com políticos fazendo de messias profanos e, em meio a uma chuva de oferendas e de espectáculos musicais, prometendo transformar a terra no céu e a pobreza na riqueza, naturalmente que atrai gente sequiosa tal como a limalha atrai o ferro. 

À hora do fecho

Na última página do semanário "Savana" existe uma coluna de ironia - suave nuns casos, cáustica noutros - que se chama "À hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Segue-se um extracto reproduzido da edição 1206, de 17/02/2017, disponível na íntegra aqui.

20 fevereiro 2017

No "Savana" 1206 de 17/02/2017, p.19

Se quiser ampliar a imagem, clique sobre ela com o lado esquerdo do rato. Nota: "Fungulamaso" (=abre o olho, está atento, expressão em ShiNhúnguè por mim agrupada a partir das palavras "fungula" e "maso") é uma coluna semanal do "Savana" sempre com 148 palavras na página 19. A Cris, colega linguista, disse-me que se deve escrever Cinyungwe. Tem razão face ao consenso obtido nas consoantes do tipo "y" ou "w". Porém, o aportuguesamento pode ser feito tal como grafei.
Nota: o presente fungula pertence à edição física n.º 1206 do semanário "Savana" com data de 17/02/2017. Se for possível disponibilizarei a versão digital dessa edição.

A lâmpada política de Aladim

De pacato cidadão, o candidato a presidente transforrma-se em pessoa excitada, o seu discurso torna-se messiânico, a motricidade corporal não tem perímetro. Acredita que não é ele, mas outro, um outro fora do comum, ele-mesmo afinal. É em meio a essa atmosfera de sobreexcitação que o candidato gere a sua lâmpada política de Aladim, prometendo transformar para melhor a vida da terra e das pessoas. Por sobreexcitação, por contágio, o candidato a presidente - não importa de que partido - tudo faz para criar o estado de crença nas multidões, hipnotizando-as - e hipnotizando-se - com promessas sem fim de parusia terrena.

19 fevereiro 2017

Rasgões e sujidade

Tempo houve em que um rasgão numa calça levava ao concerto à mão ou com uma máquina de costura do tipo Singer. Era indecoroso usar uma calça com rasgões. Hoje, a mentalidade punk é diferente: as calças, as jeans, são compradas rasgadas e, aqui e acolá, com sinais intencionais de sujidade. Ou rasgamo-las. Ou sujamo-las. Calças e calções. Rasgão e sujidade são moda. Na internet há montes de portais a ensinar como rasgar calças ou calções. É a moda do descuidado, do à-vontade, do destroyed, do atractivo sexy no caso das jovens de calções (o rasgão é uma porta de entrada, uma chamada sexualizada para a possibilidade da nudez, uma fenda deliberada na defesa corporal). Cada tempo cada sentença. [imagem reproduzida com a devida vénia daqui]

Literatura à Émile Zola

Faz falta no país uma literatura sistemática que vá para além do fantástico, dos roteiros à García Marquéz, dos enredos mágicos, dos percursos pelo passado, da fuga permanente ao real e, de frente, com visibilidade total, nos traga enredos à Émile Zola, nos mostre os caminhos dos extraordinários desencontros sociais do país, o quadro vivo e doloroso das desigualdades sociais entorpecido por certo tipo de discursos e de glosas ao desenvolvimento.

18 fevereiro 2017

Sede da saúde

Vestidos à desportista, embrulhados em calor feroz, caras de sofrimento indizível, correm e suam desalmadamente, convencidos de que assim são a sede da saúde.

A luta de duas linhas

As concepções de estética e sobrevivência na luta de duas linhas, a do Conselho Municipal da Beira e a dos vendedores informais, num texto do "Diário de Moçambique", aqui.
Adenda: recorde neste diário uma série minha em 16 números aqui.
Adenda 2 às 11:05: sobre a Beira recorde neste diário dois textos meus de 2006 e 2007 aqui e aqui.

17 fevereiro 2017

O drama da água

Manuel Alvarinho citado pelo "O País" digital: "Se o cenário prevalecer, nós vamos ficar na situação em que estamos por mais um ano. No pior cenário, daqui a um ano não temos água nenhuma. Não vou dizer que é no dia um de Janeiro, depende, por exemplo, se começarmos a poupar água (...) Depende de medidas de criação de mais furos neste período, que vão evitar que as pessoas estejam só dependentes da água do Umbeluzi. Depende, em última análise, se se consegue viabilizar uma central de dessalinização." Aqui.

Lusa e acidentes de percurso jornalístico

A agência portuguesa "Lusa" deu um exemplo de como podem ocorrer certos acidentes de percurso jornalístico. Assim, usou um mesmo texto para, com um dia de intervalo, querer mostrar que em Moçambique e na Guiné-Bissau existem mais celulares do que latrinas. Confira aqui e aqui. O caso foi apresentado aqui.
Adenda às 08:57 de 18/02/2017: é muito interessante verificar como certos jornais digitais e blogues do copia/cola/mexerica ficaram entusiasmados como tão portentosa descoberta "científica" e mandaram às urtigas a ideia camuflada na peça jornalística de que, afinal, África é toda igual.

Pensamento simbólico

É sempre muito difícil entendermos e aceitarmos a expressão do pensamento simbólico, especialmente quando nasce no interior da situações sociais de crise múltipla, situações cujos medos e cujos anseios reais aparecem traduzidos e ampliados em crenças, em rumores, boatos, lendas.

Cientistas

Os cientistas vivem em múltiplos e ciosos castelos feudais temáticos, cada castelo com sua vigiada ponte levadiça institucional consoante ramos, escolas, saberes e temperamentos pessoais.

16 fevereiro 2017

Proposta

Quando quiser estudar uma sociedade, não comece por aquilo que ela diz dos outros e dela-mesmo, mas por aquilo que faz e pelo como faz.

15 fevereiro 2017

Um director

Preocupado com a falta de energia no meu quarteirão havia cerca de 20 horas, fui hoje com um vizinho à EDM tentar saber a causa. Um director atencioso, paciente e profissional, engenheiro Alberto Banze, explicou-nos a causa do problema e, após um telefonema, deu-nos a previsão da reparação. A previsão cumpriu-se. Precisamos no país de mais directores do tipo Alberto Banze.

A ti homo a thomo tiya kudlayiwene, mylove

O problema fundamental não é que os proprietários de chapas e myloves deixem transportar pessoas em condições desumanas, mas que as pessoas aceitem ser transportadas nessas condições. Hipótese a testar: são os passageiros daqueles veículos com a ajuda da nossa indiferença quem produz e reproduz essas condições desumanas.
Nota: Entre escárnio e resignação, passantes largam frases compensatórias: "Ali vão os bois! (em Xangaan: A ti homo!)". Há quem acrescente: "Para o matadouro! (A thomo tiya kudlayiwene)"

14 fevereiro 2017

Saiba sobre Moçambique

Saiba sobre Moçambique através de um boletim editado por Joseph Hanlon, em dois números com datas de ontem e hoje, aqui e aqui.

Confessionários digitais

Se estivermos algum tempo a estudar o tipo de mensagens colocadas, por exemplo, no Facebook ou no Twitter, apercebemo-nos da enorme ansiedade que o geral das pessoas tem de dizer a outrem coisas como "existo", "hoje fui ver um filme", "tenho sono", "vejam este vídeo", "estou aqui", "gosto de chocolate", "hoje faço anos", etc. A bulímica necessidade de acrescentar centenas, milhares de amigos, joga no sentido confessional de busca de um público permanentemente receptivo, regra geral constituído por conhecidos desconhecidos que rodeiam um pequeno círculo de reais amigos dialogantes. Salas de chat, redes sociais, etc., são enormes confessionários digitais.
Adenda: "Estudo revela que as pessoas mais solitárias são aquelas que partilham mais pormenores sobre si mesmas nas redes sociais" - aqui.