21 outubro 2016

Os dois juízos

Quando dizemos "esta garrafa é verde" estamos perante um juízo de facto. Quando dizemos "esta garrafa verde é bonita" estamos perante um juízo de valor. Na primeira proposição definimos uma certa realidade, abstendo-nos de a classificar estética ou moralmente; na segunda, a avaliação factual é determinada pela avaliação estética ou moral. Se estiverdes atentos ao que se escreve na nossa imprensa, nos blogues e nas redes sociais digitais, dareis facilmente conta da promiscuidade permanente entre os dois tipos de juízo. Um exemplo político: "o partido A quer atingir o poder" é um juízo de facto - mesmo se sujeito a comprovação; mas a preposição "é imoral o partido B querer manter-se no poder" é um juízo de valor. No mercado das ideias, o segundo tipo de juízo faz questão de ostentar os galões do primeiro, fazendo passar por juízo de facto o que é juízo de valor. Como escreveu um dia Charles Peirce, mais do que verdades científicas procuramos crenças que tomamos por verdadeiras. Faltou-lhe acrescentar: especialmente a nível político.

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