17 outubro 2014

Está a Renamo a denunciar o seu próprio povo?

Sobre a rejeição dos resultados eleitorais por parte da Renamo, anunciada pelo seu porta-voz António Muchanga, um comentário com o título em epígrafe da autoria de Joseph Hanlon (na imagem), editor do Boletim sobre o Processo Político em Moçambique (62), com data de hoje: "Todos os STAEs que não conseguiram emitir credenciais para os observadores, delegados e MMVs têm um diretor-adjunto da Renamo e mais dois funcionários designados pela Renamo. Cada STAE é, por sua vez, supervisionado por uma comissão eleitoral com dois membros nomeados pela Renamo.[...] Assim, a incapacidade para impedir o enchimento das urnas deve ser atribuída aos delegados da oposição e MMVs. Os locais onde estes não foram nomeados, foi por falha do partido. E onde estes não estiveram presentes porque as credenciais não foram emitidas, foi por falha dos directores-adjuntos do STAE e os dois membros Renamo na comissão eleitoral, que foram nomeados precisamente para fiscalizar e evitar que tais problemas ocorressem. [...]" Esse comentário e outros textos sobre as eleições, aqui.
Adenda às 19:39: um jornalista sedeado em Quelimane disse-me há momentos haver muitas irregularidades nas actas de Quelimane (por exemplo, actas rasuradas e actas carimbadas mas não preenchidas), razão por que as tendências de voto ainda não foram anunciadas.

2 comentários:

João Feijó disse...

O que Hanlon diz aparentemente faz sentido. Na última newsletter da CIP intitulada "A perspectiva de um hacker sobre as eleições gerais de 2014" lia-se o seguinte: "A actual legislação exige uma mobilização de grande escala por parte dos representantes dos partidos presentes nos órgãos de gestão eleitoral e nas mesas de voto. Será um grande desafio para o MDM e a Renamo colocar pessoal suficientemente formado em cada uma das 17000 mesas de voto. E, em algumas áreas, eles poderão ter dificuldades em colocar pessoal devido a intimidação ou, simplesmente, cair na tentação de ceder ao suborno. Os observadores
concentram-se tradicionalmente em áreas mais contestadas mas, olhando para Gaza e para a região sul da Província de Tete, a fraude, muitas vezes, parece ocorrer em áreas fortemente dominadas por um único partido". Nestes contextos, contrariar os interesses do grupo dominante pode significar estar a semear problemas: um secretário de bairro pode ficar ofendido e criar conflitos de terras, uma casa pode ser queimada, poderá enfrentar entraves na abertura de uma barraca ou de uma banca no mercado entre outros negócios.

Carlos Serra disse...

Falta um dia fazer a "microfísica" dos poderes locais, sua estrutura, actores intervenientes, regras e punições, dominações e resistências, algo que pudesse ser produto de alguns anos de terreno, de registo diário.