29 abril 2011

Poder e representação: teatrocracia em Moçambique (8)

O oitavo número da série, que no seu título usa um termo de Georges Balandier, teatrocracia.
Prossigo no terceiro ponto do sumário que vos propus, refiro-me ao poder comicial, agora escrevendo sobre o terceiro subponto sugerido, a gestão do espectáculo.
O espectáculo puro do poder político dando-se a conhecer e procurando causar efeitos ópticos prolongados - eis o tecto do poder comicial, iniciado logo que o líder surge com grande aparato. O líder mostra que foi capaz de deixar o centro do sagrado decisional e de descer à periferia do comum dos mortais, ao povo, inutilizando temporariamente a distância e o resguardo, mostrando que é capaz de se equiparar aos súbditos, dando no fim da sua intervenção a palavra a pessoas escolhidas previamente pelo protocolo local para falarem, para estarem em empatia com o sagrado que ele representa. Mas isso é apenas uma parte do espectáculo (de resto variado, incluindo oferendas locais), porque o estrado ou o palanque assinalam ao mesmo tempo e permanentemente a distância vertical indissolúvel, reforçada pelos acompanhantes respeitosos, pelas autoridades tradicionais garbosamente fardadas e pelos atentos agentes de segurança.
Imagem: el poder, quadro do pintor e ceramista argentino Raúl Pietranera).
(continua)

1 comentário:

Anónimo disse...

Professor,

A propósito da referência que fez em postagem anterior desta série, onde referiu a apetência por chamarmos Palácio a tudo que seja residência de estrutura: Presidente, Governadores, Administradores de distrito, etc., etc. …
… reparei ontem, que o novo edifício do Ministério da Justiça, na 25 de Setembro, construção chinesa, tem bem visível, em letras metálicas douradas a designação PALÁCIO DA JUSTIÇA … por este andar, para não ficarem atrás em termos de dignidade, não nos admiremos que em breve tenhamos o Palácio dos Negócios Estrangeiros, Palácio das Pescas; Palácio da Juventude e Desportos, Palácio da Agricultura (vão demolir e construir outro por cerca de 50 milhões de USD, obviamente, com financiamento e 1/3 de mão e obra chinesa).
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No âmbito desta série, realço ainda o gosto dos nossos dirigentes por anéis e pulseiras de ouro … como que a provar que aquelas mãos são para exibir e não para trabalhar … como adoram, uma grande parte dos nossos dirigentes, viver de aparências.