01 junho 2007

Identidade moçambicana - o problema de Olívia (3) (continua)

Há tempos escrevi aqui o seguinte: "E coitado do José Mucavel retrogadado que, em programa da Anabela Adrianoupolos na STV sobre música moçambicana, chamou pimba à música do Roger e recebeu em resposta a afirmação de que ele, Roger, era um cantor das massas, querido, amado, respeitado."
Temos aí, o problema de Olívia: "De há alguns anos para cá, anda em voga um atrevido debate sobre a identidade moçambicana. O que é música moçambicana? O que é moda moçambicana? O que é culinária moçambicana?(...) Quando, na verdade, seria mais fácil questionar o que não é moçambicano ou apresentar os critérios necessários para se designar algo de moçambicano."
Deixemos de lado a clássica maneira de traduzir uma identidade nacional pelos critérios que cada país usa. A clássica maneira, certamente sensata, de remeter uma identidade nacional para uma placenta simples, clara, imutável.
Vamos lá ver as coisas de outra maneira.
O que tem feito José Mucavel? Como campositor e cantor, tem estudado a nossa música digamos que camponesa, tem procurado captar a sua alma, diversa, rica. Depois tem criado letras, melodias. Mas o que tem criado é genuinamente o que estudou, aquela música digamos que mais resistente (creio que incorro num pecado!) à mudança, mais fixa porque mais rural? Evidentemente que não: produto de um certo tempo, de uma certa época, Mucavel imprimiu aos ritmos que estudou o selo de uma nova maneira de ver a vida. Ele tem transformado a música digamos (com prudência) original. A sua música quente, por vezes nostálgica, é simultaneamente identidade e alteridade, unidade e pluralidade, repetição e mudança, é, afinal, uma música mista. A sua música não é mais do âmbito da balança, mas da corda e do arco, em tensão perpétua.
E Mc Roger? O que tem ele feito? O que tem feito é estudar o rap, do mais puro. O seu celeiro de inspiração não está no campo, mas nas cidades, nas cidades americanas interpretadas em Maputo. E decidiu enxertar marrabenta nesse rap, maputizando a vida, enxertando a pastorícia de Gaza e as minas sul-africanas no ritmo de Chicago. O cantor do patrão é patrão não pertence à época de Mucavel, mas à de Olívia Massango. As suas coordenadas culturais são outras. Por exemplo, Mc Roger não veste como Mucavel veste, na vida do dia-a-dia ou em palco. Nem Mucavel faz uso daquele luxuoso carro que Roger tanto ama. E, no mais evidente, Mucavel não sentiu necessidade de encontrar um nome artístico como "Mc Roger".
Mas o itinerário de Mc Roger, ainda que distinto do de Mucavel, tem, no entanto, a mesma característica digamos que tensorial, guarda o mesmo devir em acto, a mesma alma da síntese contraditória.
Deixem-me defender uma coisa: ambos cantam, realmente, música moçambicana. Ainda que filhos de épocas diferentes, ambos são espécimes identitários plurais, ambos pertencem, cada um à sua maneira, ao que Olívia Massango aticamente chamou "campo de múltiplas influências".
Prossigo depois, está bem? E pode acontecer que altere algo no que acabo de escrever.

1 comentário:

rassul disse...

nao estamos na altura de assistir a rivalidade no seio dos musicos moçambicano.
o jose mucavel assim como o mc roger estao a fazer a sua parte na elevaçao da cultura moçambicana. nada de chamar musica pimba a estilo nusical do outrem, pois todos rem o direito de fazer o que lhes vem na alma desde que nao ofenda. se o mucavel vem ate a televisao e diz barbaridades sobre o outrem isso pode levar-nos a concluir que ele esta insatisfeito com alguma coisa.