02 novembro 2006

Linchamentos e académicos

A página 7 do semanário "meianoite" desta semana (31/10 a 06/11/2006) trás os testemunhos de três académicos sobre os linchamentos: o antropólogo Alípio Siquisse e dois filósofos, Guilherme Basílio e Camilo Jinica.
Creio ser possível resumir os argumentos dos três: trata-se de um problema grave, este problema grave pode gerar a perda de valores morais, as gerações futuras estão assim em risco e, por isso, a justiça deve ser enérgica contra os linchadores, a polícia deve reorganizar-se, dispôr de mais meios, etc., para que a ligação entre Estado e povo seja harmoniosa. O antropólogo Siquisse acha que o povo é movido pela "psicologia de massas" (sic) e o filósofo Jinica propõe que a polícia investigue os "promotores dos linchamentos" (sic).
De ambos extrai-se uma diagonal: o povo é simples e obediente, os promotores dos linchamentos é que o estragam instaurando a psicologia de massas e, por isso, devem ser encontrados.
Nenhum dos meus três colegas parece ter-se inquietado sobre como vivem os moradores na periferia de Maputo.

3 comentários:

Anónimo disse...

Professor,
sabe o que é profundamente atróz neste tipo de pensamento. É que estes "pensadores" são originários quase sempre desses bairros. Assim se cumprem as carreiras académicas. O antes renegado em desfavôr da identidade canudo..

Carlos Serra disse...

Como dizia com frequência o Mabjaia, um excelente cómico nosso, "a vida é muito complicada".

La Strega disse...

Tenho-me lembrado frequentemente do filme/musical Chicago ao longo deste debate sobre os linchamentos. A minha cena favorita do filmr e o "Cell Brock Tango".

O tema central do filme e a volta de crimes privados passionais. Mas o que e um linchamento senao um crime passional?

A logica da mensagem das prisioneiras e que as vitimas sao elas e nao os assassinados. Os assassinados fizeram por merecer a sua sorte. Se aqueles a quem elas se dirigem estivessem no lugar delas, teriam feito o mesmo que elas (ou seja, assassina-los). Se soubessesm o que eles lhes faziam, entao nao as condenariam? Mas acima de tudo (e esta e a parte que eu acho fundamental no discurso delas) elas admitem que cometeram assassinato, mas nao reconhecam que tenham cometido um crime.