27 abril 2006

Modernidade tradicionalizada

Tomemos em conta o mais modesto dumba-nengue da cidade de Maputo. Muitos de nós terão tendência em ver nele, plasmado, o sentido da tradição ou, se quiserdes, das tradições: o do comércio, o do vestuário das mamanas, o dos hábitos rurais, etc. Mas, na verdade, nada nele é tradicional. Esse dumba nengue é a produção diária, constante, de relações tributárias de várias redes de contactos, de negociações, de acordos ligadas à obtenção dos produ­tos, de viagens estratégicas: Suazilândia, África do Sul, desvios dos circuitos locais de produção e distribuição, acumulações de mais-valias periféricas ao nível do Estado, etc. Esse mundo impregna-se, ao mesmo tempo, de reinvenções linguísticas, políticas, corporais, modais, alimentares, etc. Ele é um momento da modernidade. Ou, se quiseredes, da modernidade tradicionalizada.

1 comentário:

Anónimo disse...

Certo, nao conheço os “dumba-nengue”, mas segundo o que descreve acho-os muito interesantes, vendo-os segundo a perspectiva da modernizaçao, os indicadores sociais aí estao: mobilidade de bens, a intensificaçao das trocas , as redes de contacto, a circulaçao de informaçao.
Habitos rurais – presuponho deslocamento de populaçoes do meio rural para a cidade, adopçao de novas profissoes, abadono do campesinato.
Acumulaçoa de mais valias perifericas do Estado – presuponho a intensificaçoa e desenvolvimento do mercado informal, criaçao de riqueza.

estou em querer que “dumba-nengue”é ao mesmo tempo consequencia dum processo de de mobilizaçao e de diferenciaçao e integraçao de valores economicos sociais e politicos. Os “dumba-nengue” sao a "cristalisaçao" de uma dinamica de mudanças observaveis ao longo do tempo, que afectam a estrutura ou funcionamento da organizaçoa social duma dada colectividade.

Assim, Eu gostaria de saber se existe uma relaçao entre todas essas mudanças sociais e o aumento do individualismo? Noutros termos sera que o aumeto da “modernidade tradicionalizada”, faz diminuir as redes de solidariedade e entre-ajuda peculiares de Africa? Ou se preferir seguindo o raciciocinio de soeur Emmanuel (artigo de Maio) “ a riqueza isola as pessoas, torna-as desconfiadas, zelosas do seu ter”, assim pergunto, sera que “dumba-nengue”nao engendram o risco das pessoas em Moçambique tornarem –se inumanas e solitárias, como na Europa?

Iolanda Aguiar